Bioquímicos portugueses Cátia Feliciano e João Peça envolvidos no estudo:
Guoping Feng, da Duke University, Carolina do Norte, EUA
Ratos de laboratório com Transtornos Obsessivos Compulsivos (TOC), que se arranhavam a ponto de arrancar o pêlo e a pele, ficaram praticamente curados depois da injecção de um gene que lhes faltava, revela uma experiência hoje publicada na revista Nature. O estudo de Jeffrey Welch e Guoping Feng (Duke University, Carolina do Norte, EUA), com a participação dos bioquímicos portugueses Cátia Feliciano e João Peça, foi realizado com ratinhos aos quais foi previamente retirado por manipulação genética o gene chamado 'Sapap3'.
A proteína produzida por este gene é particularmente abundante numa zona do cérebro chamada 'estriado' ('striatum'), surgindo assim a relação com os TOC, já que nos humanos os doentes com TOC apresentam lesões ou diferenças de funcionamento nessa zona cerebral. Depois de apagarem a proteína nos ratinhos, os cientistas descobriram que os animais se arranhavam compulsivamente, passados alguns meses. A maioria de ratinhos não desenvolveu a doença depois de lhes ter sido injectado o gene em falta.
O trabalho "sugere novas estratégias terapêuticas", de acordo com os investigadores. Os TOC, que atingem mais de dois por cento da população mundial (dos quais 2,2 milhões de norte-americanos), são caracterizados pela obsessão da limpeza, da ordem, da simetria, e das dúvidas e medos irracionais. Os pacientes tentam reduzir a sua ansiedade repetindo incansavelmente os rituais limpeza, de ordenação ou de verificação de situações. Estes gestos repetitivos que o paciente não consegue evitar, como lavar as mãos um sem número de vezes com medo dos micróbios ou arrancar os cabelos, são chamados "compulsivos". Num terço dos casos o tratamento usual, que associa terapia comportamental e anti-depressivos, é ineficaz. O comportamento dos roedores do estudo e a sua ansiedade (medo de explorar espaços novos) apresenta muitas semelhanças com o comportamento obsessivo-compulsivo humano, pelo que poderá servir aos investigadores como um modelo animal sobre estes problemas. No entanto, segundo o neurobiologista norte-americano Steven Hyman, da Universidade de Harvard, "nada permite afirmar que os TOC humanos estão ligados a este gene", porque eles não são uniformes e revelam elementos complexos, implicando provavelmente muitos genes.
Este especialista salienta também que "é extremamente pouco provável que modelos animais possam integrar os problemas psiquiátricos humanos na sua totalidade".