14 novembro 2010

Perturbações psiquiátricas: Portugal tem «padrão atípico»



"Portugal tem «um padrão atípico, em termos europeus», de prevalência de perturbações psiquiátricas, com números que se aproximam aos dos Estados Unidos, país com maior prevalência no mundo, disse à Lusa o coordenador do estudo nacional sobre saúde mental.
O primeiro estudo que faz o retrato da saúde mental em Portugal insere-se na iniciativa mundial dos estudos epidemiológicos da Organização Mundial de Saúde (OMS), é coordenado pela Universidade de Harvard nos Estados Unidos e envolve 24 países, tendo até hoje criado a «maior base de dados do mundo», com mais de 100 mil pessoas entrevistadas.
Em Portugal, o estudo é dirigido pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e revelou que 22,9 por cento dos 3849 entrevistados, amostra representativa da população portuguesa, sofrem de perturbações psiquiátricas, aproximando-se dos 26,3 por cento registados nos EUA.
«Nós aparecemos com resultados mais elevados do que os restantes países do Sul da Europa, que têm um padrão com prevalência mais baixa do que os países do Norte. Nós temos valores mais elevados do que no Norte da Europa, aproximando-nos dos Estados Unidos», explicou o responsável pelo estudo português, Caldas de Almeida.
No topo dos problemas estão as perturbações de ansiedade, com 16,5 por cento, as perturbações depressivas, com 7,9 por cento, as perturbações de controlo dos impulsos, com 3,5 por cento, e as perturbações relacionadas com o álcool, 1,6 por cento.
Os primeiros resultados do estudo revelam que os mais afectados são as mulheres e os jovens dos 18 aos 24 anos e, dentro destes dois grupos, especialmente aqueles que estejam separados, viúvos e divorciados e tenham níveis de literacia baixos e médios.
Para além de medir a prevalência das doenças mentais, o estudo também tem como objectivo «o impacto destas doenças na produtividade de um país, em termos de incapacidade, de faltas ao trabalho, de doenças físicas» e também na utilização dos serviços de saúde, explicou Caldas de Almeida.
«É um estudo muito interessante, que cruza a informação sobre a patologia com a informação sobre os serviços», sublinhou o responsável, evidenciando que «em todo o mundo há uma percentagem demasiado alta de casos que não são devidamente atendidos».
Aliás, acrescentou, «uma das razões principais da realização deste estudo foi ter evidência científica que ajude no desenho e na implementação da saúde mental».
«Coisas boas e más»
No caso de Portugal, o estudo analisou o acesso aos serviços de saúde e constatou que existem «coisas boas e más». Segundo Caldas de Almeida, «os cuidados primários, clínica geral, têm uma acessibilidade muito boa em termos europeus, enquanto que os serviços especializados já não têm uma performance tão boa, em relação à média na Europa».
O estudo português tem o financiamento da Comissão Europeia, até Julho do próximo ano, e apresentará os resultados finais durante o segundo semestre de 2011.
A pesquisa nacional tem objectivos específicos, que coincidem com os europeus, pretendendo obter uma análise de dados em torno de três grandes temas: o peso das doenças http://diario.iol.pt/ a nível europeu, a influência do género nos problemas das doenças mentais e a influência das desigualdades sociais e económicas nos problemas da saúde mental.
«Vamos ter, no fim, um manancial de dados que vai ser muito importante para percebermos qual é a origem de muitos problemas. Vamos encontrar muita informação que vai ser muito importante no futuro», antecipa Caldas de Almeida."
in http://diario.iol.pt/  - 14-11-2011