09 abril 2009

O CORPO EM TERAPIA



"Muitas pessoas não imaginam ou apenas desconhecem o fato de que através do corpo podemos alcançar as partes mais profundas da nossa mente. Este lugar também chamado de inconsciente pode sim ser tranquilamente acessado por técnicas e actividades corporais de cunho terapêutico.
Para as pessoas mais sensíveis, uma aula de pilates, yoga, relaxamento ou meditação por exemplo podem ser suficientes para que se dê tanto um bem estar físico como ocorra para além disso, uma sensação de harmonia entre corpo, mente e espírito.
E porque isto ocorre?
Hoje em dia já esta mais que visto que nossa mente e nosso corpo funcionam como um organismo integral ou seja, nossa mente encontra-se presente por todo nosso corpo e vice-versa.
A psicossomática, fundamentada nesta ideia, considera a doença a perda de um estado de harmonia ou ainda a perturbação de uma ordem mantida em equilíbrio até então e que no corpo ela apenas se mostra. Por conseguinte o corpo é o veículo da manifestação ou da realização de todos os processos e câmbios que se produzem na consciência.
Isto explica porque que, quando estamos numa actividade física onde se trabalha o corpo de uma forma consciente, ou seja na qual se convida o aluno a se auto-conhecer e se apropriar de seu corpo, sentindo suas potencialidades e limitações, essa pessoa consequentemente aproxima-se do seu mundo interno, podendo assim receber algumas mensagens sobre si próprio não só no que diz respeito aquele momento da actividade mas também em algo que se passa na sua vida lá fora.
Um grande bailarino chamado Klaus Viana, escreveu um comentário sobre esse fenómeno. Disse que se soubesse que para conseguir realizar um passo em sua perfeição ele tivesse antes percebido que muitas vezes era necessário resolver algo fora do estúdio para que depois conseguisse realizá-lo teria economizado bastante tempo e esforços para além de algumas quedas.
Porém, muitas vezes, os sinais do nosso corpo nos passam desapercebidos e se transformam num sintoma, que pode se manifestar de inúmeras formas ( dores nas costas, dores de cabeça, úlceras, alergias, etc…) e que são uma expressão da perda de harmonia corpo/mente, de um desequilíbrio. Na maioria das vezes corremos ao médico e não é incomum que saiamos do consultório surpresos quando dizem-nos que os exames não apontam nada ou que pelo contrário o tratamento proposto acabou por não resultar.
Sendo o corpo o veículo de manifestação de todos os processos que se produzem na consciência podemos concluir que se uma pessoa padece de um desequilíbrio na consciência este manifestar-se-á no corpo todo. É incorrecto dizer então que só o corpo esta doente pois apenas o SER HUMANO pode estar doente por muito que este estado de doença se manifeste no corpo enquanto sintoma.
Desta forma peço a vossa licença para informa-lhes que as psicoterapias não se destinam apenas às pessoas com psicopatologias graves ou a “beira da loucura”. As psicoterapias são sim muito úteis para uma pessoa dividir, compreender e tratar uma dor ou um sintoma físico que há muito tempo incomoda-lhe e que tira-lhe o prazer de viver.
O único desafio é o de permitir-se cuidar e amar a si próprio!
Gostaria apenas de esclarecer que existem varias formas e abordagens nas psicoterapias, é necessário que a pessoa escolha o profissional ou a “técnica” com a qual mais se identifique.
No caso de uma psicoterapia de abordagem corporal, o paciente é auxiliado a fazer o seu processo de auto-conhecimento pelo vi és do corpo e as actividades podem variar muito. As técnicas que particularmente costumo mais usar são:

- Calatonia ¹ -Trata-se de uma técnica de relaxamento que pode possibilitar o emergir de imagens, tornando o indivíduo expectador de suas vivenciais internas.
- Técnicas Expressivas Coligadas ao Trabalho Corporal - Procedimentos em que se utilizam trabalhos corporais como uma transposição para a arte. Quando estamos centrados na escuta de nós mesmos podemos dar forma às emoções, materializar os sentimentos e dessa forma o corpo transforma-se em linguagem não verbal. São propostos para isto actividades que variam entre modelagem em argila, pintura, desenho, expressão corporal, yoga, relaxamento, etc.
- Consciencialização e correcção postural (Método GDS ²) - O aspecto postural, gestual , sua forma ou suas deformações, as tensões, as dores, tudo isso faz do corpo um conjunto de fragmentações. Exercícios de consciencialização e correcção postural fazem parte do processo de reorganização e integração psicofísica.
- Dança - Actividade de expressão não verbal que através da música e do movimento possibilita uma nova oportunidade de comunicação. Incluir a dança e o movimento na psicoterapia facilita a conexão entre o que sentimos e o que significamos. A dança proporciona novas oportunidades de desenvolvimento marcado pelo respeito pelo gesto e pelo movimento espontâneo que inspiram confiança no próprio modo de ser.

(¹) A calatonia é uma técnica de relaxamento que foi desenvolvida por Dr. Pethö Sandor, médico e psicólogo húngaro. Essa técnica começou a ser desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial nos acampamentos da Cruz Vermelha, com os feridos que tiveram membros amputados. Os toques que Dr.Sandor começou a aplicar como uma forma de relaxamento o levaram a perceber a correspondencia cortical da perna amputada com um membro são.
Posteriormente no Brasil, na década de de 1950, Dr. Sandor começou a pesquisar e estudar psicologia profunda. Foi a partir daí, que realmente desenvolveu a técnica conhecida hoje como calatonia, que seriam nove toques subtis nos pés, nas pernas e na cabeça.
(²) O método de cadeias musculares e articulares G.D.S leva o nome de Godelieve Denys-Struyf, que foi sua iniciadora nos anos de 1960-70. Trata-se de um método de fisioterapia e abordagem comportamental, de prevenção, tratamento e manutenção, baseado na compreensão do terreno de predisposições.
A partir da noção de que corpo é linguagem, Godelieve dedicou-se as bases de compreensão psicocorporal dirigida a criança e ao adulto, no quadro de ginástica e da utilização corporal mais consciente e sobretudo mais adaptada a cada indivíduo."

Silvana Pedrazzi - psicoterapeuta